O Príncipe – Natália NP – 16/11/2009

Era o dia.

Não mais um dia. Mas o dia. Ela finalmente conseguiria o que tanto esperara em toda sua vida. Seus sonhos de infância se tornariam realidade e mal acreditava em sua sorte. Ele era perfeito. Seu príncipe encantado.

Não havia sido fácil. Nunca é fácil, na verdade, mas ela achava que as coisas eram sempre mais difíceis quando se tratava de si. Anos e anos e anos se passavam e nada dele. Era como se todos estivessem certos e ele não existisse. Teria que se virar com alguém imperfeito. Todas se viravam com seres imperfeitos.

Mas então algo aconteceu. Ele apareceu em sua vida como o raiar do sol depois de eras de escuridão. Iluminou seu mundo sombrio, acabando com as sombras que nele existiam. Era ele. Desde o primeiro momento, ela sabia que era ele.

Agora não faltava muito. Ia chegar um pouco atrasada, alguns minutos, para deixá-lo ansioso. Sabia essas estratégias de como agir, para deixar um homem com mais vontade ainda. Uns dez minutos fazendo-o esperar mostrariam que ela não estava assim tão na dele. Não que não estivesse.

Chegou. Estava vazio. Onde ele estava? Com certeza algum problema tinha acontecido para ele ainda não ter chegado. Ia esperar. Esperou.

O relógio passava com uma lentidão irritante. A cada novo minuto os seus olhos desciam novamente para o pulso esquerdo, sua perna direita se movendo para cima e para baixo.

Dez minutos.

Talvez o feitiço tivesse virado contra a feiticeira. Ele estava fazendo aquilo por querer. Queria deixá-la ansiosa. Então provavelmente estava tão afim quanto ela. Abriu um sorriso. Pensar nisso a reconfortava. Ele iria chegar a qualquer momento.

Vinte minutos.

Sua perna não parava. Agora tinha que se segurar para não começar a roer as unhas pintadas naquele mesmo dia. Estava ansiosa. Estava nervosa. Estava preocupada. Mas tinha algum motivo. Ele iria chegar a qualquer momento agora.

Meia hora.

Será que seu relógio não estava adiantado? Ele nunca a deixaria daquela maneira esperando. A não ser que alguma coisa tenha acontecido. Ela mordeu o lábio inferior preocupada.

Uma hora.

Agora a situação estava critica. Suas unhas estavam sendo roídas. Sua mente inventava inúmeras situações que poderiam levar a fazê-lo se atrasar tanto. Olhou para o celular, mas ele não tinha ligado para falar nada. Será que deveria?

Uma hora e meia.

Não podia mais esperar sem se preocupar. Tinha que ligar para ele e saber o que havia acontecido. Respirou fundo. Discou o número. Chamou uma vez... Duas... Três. Alguém atendeu. Ela prendeu a respiração. A voz dele lhe chegou ao ouvido como veludo. Um sorriso brotou de seus lábios. E desapareceu no instante seguinte.

Ele não viria.

Desligou o celular com classe. O guardou na bolsa comprada na noite anterior. Seu rosto permanecia sério, centrado. Ela levantou-se de onde estava e saiu andando do lugar. Havia aprendido algo naquela noite.

Príncipes encantados não existem.

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